Uma agulha vermelha num palheiro
24 de Junho de 2022
Uma equipa de astrónomos descobriu a que poderá ser a galáxia mais distante até hoje observada. Esta galáxia, designada por HD1, encontra-se a cerca de 13,5 mil milhões de anos-luz de distância. Isto significa que estamos a olhar para um objeto no passado longínquo, próximo do Big Bang que ocorreu há 14 mil milhões de anos.
A descoberta indica que os sistemas brilhantes, como HD1, podem ser muito antigos, formando-se apenas 300 milhões de anos após o Big Bang! Se o Telescópio Espacial James Webb confirmar a sua distância exata, HD1 será de facto a galáxia mais distante até hoje observada.
Os astrónomos procuram galáxias distantes nos primórdios do Universo para compreenderem como e quando se formaram. Como a velocidade da luz é constante, a luz de um objeto distante leva muito tempo a chegar até nós. Quando dizemos que um objeto está a mil milhões de anos-luz de distância, estamos a dizer que a luz emitida por esse objeto teve de viajar mil milhões de anos até nos alcançar! É por isso que quando os astrónomos observam objetos distantes no espaço, estão a observar objetos distantes no tempo, ou seja, no passado longínquo do Universo.
Observar HD1 a 13,5 mil milhões de anos-luz de distância foi um processo trabalhoso para a equipa internacional de astrónomos envolvida. Tiveram de analisar dados correspondentes a mais de 1200 horas de observação dos telescópios Subaru, VISTA, UK Infrared e Spitzer.
Para descobrir HD1, os astrónomos tiveram que examinar mais de 700 mil objetos espaciais: de certa forma, foi como procurar uma agulha (vermelha) num enorme palheiro! E porque dizemos vermelha? É que quanto maior é a distância a que está uma galáxia, mais vermelha ela surge. Isto porque, do nosso ponto de vista, as ondas de luz alongam-se à medida que vão ficando mais distantes. O alongamento leva a uma alteração do comprimento de onda, aproximando-se da cor vermelha do espectro eletromagnético, um fenómeno que os astrónomos designam por "desvio para o vermelho".
HD1 é muito brilhante e isto surpreendeu os investigadores. É que a teoria da formação de galáxias não consegue explicar a existência de objetos tão brilhantes numa fase tão inicial do Universo. O próximo passo será descobrir como se formou esta galáxia - ou se é mesmo uma galáxia: poderá até ser um buraco negro ativo. A equipa espera que o Telescópio Espacial James Webb possa ajudar a resolver este mistério.
Imagem: Imagem criada usando dados do telescópio VISTA. HD1 é o objeto vermelho na parte ampliada.
Créditos: Harikane et al.